terça-feira, 16 de outubro de 2012

Fanfiction: I am May... Mary May

Tem um tempinho já que eu fiquei sabendo que o site em que eu postava minhas fanfics, o Nyah!, não irá mais permitir que histórias com personagens não originais (bandas, atores, atrizes, cantores, personagens de filmes...) sejam publicadas. E isso é meio triste porque eu criei várias fantasias com o Axl Rose... hahaha.

O problema é que eu não quero perder meus textos então vou publicá-los aqui. Sei que tem risco de plágio e tal mas é a única solução imediata em que pude pensar.

Então, enjoy it!

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

I am May... Mary May

Estou enfrentando um grande dilema, minha filha está com problemas na escola e veio conversar comigo esta noite. Ela me pediu que a autorizasse a morar com minha tia avó em Nashville, e realmente não estou disposta a deixá-la morar sozinha no campo com uma velha que já está mais "pra lá do que pra cá". O grande desafio é argumentar que ela não pode já que Sarah descobriu que saí de casa aos dezesseis anos...
Nunca fui rebelde, pelo menos não externava isso, pensava que seria uma atitude nada cortês da minha parte expressar o que se passava na minha cabeça. Eram muitas coisas. Embora obediente e religiosa eu costumava contestar muitas doutrinas e comportamentos dos que me rodeavam, em pensamento.
Mesmo tentando camuflar, algo em minha personalidade sempre soou diferente e em consequência era rejeitada. O meu humor negro e ironia eram ótimas armas até onde pude aguentar. Mas uma fatídica tarde de trabalhos sociais na Igreja encerrou minha inocência adolescente.
– É um pesadelo ajudar os pobres, chegar perto deles me dá nojo! Heather Lynn cochichava com Amber Lucydi no canto do salão. Me encontrava escondida atrás da arara de roupas doadas, remexendo em uma caixa de qualquer coisa para beber - Pelo menos a enjeitada está aqui, podemos rir um pouco.
– Hum, ela é bem esquisitinha mesmo. Tem sempre alguma coisa errada nela, aquelas roupas meio frouxas, aquele cabelo nojento desgrenhado. Acho que a palavra é desajustada. Amber fabricava caretas enquanto tentava me descrever.
– Sabe, ela é cheirosa mas parece suja. É inteligente e tão idiota. Talvez seja até bonita... Se fosse um garoto! As duas gargalhavam alto - Me parece uma aberração dessas de circo! Deus, e aquela jaqueta horrorosa dos anos 60?
– Nem a velha da senhora Dasburry gosta dela. Como ela disse?... Ah sim, garota satânica. As gargalhadas eram cada vez mais altas.
Os xingamentos não me feriram de modo algum, engraçado, eu até gostei deles mas me machucou lembrar que há alguns meses atrás as mesmas meninas estavam dizendo que seriam minhas amigas, que eu seria bem tratada e que eu era muito especial.
Já deitada em minha velha e gasta cama eu refletia "E se eu me mandasse? Não seria fácil sobreviver mas meu pai gastaria menos dinheiro, meus amigos de verdade não seriam mais motivo de chacota e a diversão daqueles filhos da mãe acabaria". Mais vantagens do que desvantagens, me parecia interessante.
De manhã fiquei um bom tempo contemplando a tigela de cereal, poderia ser a última. Vislumbrei minha mãe completamente descabelada lavando a louça, nunca mais a veria assim. Meu pai gritou comigo para que eu recolhesse as toalhas molhadas, sentiria falta disso inclusive. Minha irmã tinha acabado de derrubar leite achocolatado nos meus cadernos, não ligava pois não precisaria mais deles. Não gritei, não olhei, apenas levantei e tomei o caminho da escola.
Não fiz absolutamente nada por lá, prestei atenção somente. Prestei atenção em cada palavra dita pelos amigos, pelos professores, pelos diretores, até pelo faxineiro e pela dona da cantina, agora eles eram oficialmente uma mera lembrança de alguém que não existia mais.
– Vou para Los Angeles esta noite.
– Vai visitar seus tios? Eles não são de San Francisco? Liz esforçava-se para não me dar ouvidos.
– Eu não vou visitar ninguém, vou a um encontro. Mantinha meu olhar firme no horizonte dos campos abertos - Um encontro comigo mesma.
– Nossa Maryann, você está mais esquisita do que nunca! Meu amigo Carter conhecia minha estranheza mas a admirava - O que há?
– Eu cansei. Dessa cidade monstra, dessa gente com cérebro de ervilha, esse lugar não é meu, não é minha casa. Apenas nasci aqui por ironia do destino mas essa não é minha cidade. E tratem de esquecer de mim porque eu vou esquecer de vocês. De agora em diante eu sou Mary May, Maryann morreu.
Deixei-os no banco gelado de concreto, provavelmente ficaram me olhando pelas costas com expressões de tristeza ou decepção. Mas eu realmente não estava me importando.
Era outono em meados do anos 1980 e tudo estava muito frio e escuro, mais do que o normal. Não pulei a janela e não pratiquei nenhuma outra peripécia, saí de casa pela porta da frente com uma calça jeans, uma camiseta com a cara do Paul Stanley por baixo de uma antiga camisa xadrez do meu pai, a tal jaqueta horrorosa dos anos 60 e o Chuck Taylor veterano de guerra. Na mochila mais algumas camisas, umas roupas de baixo, coisas para enganar a fome e o dinheiro do lanche da Maddie. As irmãs sempre perdoam...
Los Angeles era o berço do cenário Hard Rock desde o fim dos anos 70 e meu sonho sempre foi formar uma banda, infelizmente eu mal tocava campainha. A Minha Cidade também era perigosa e eu sabia bem disso, vi nos jornais os altos índices de tráfico, violência e prostituição. Dane-se, eu precisava ver.
Peguei o ônibus mais fodido e barato para lá, no caminho imaginei minha família se deparando com minha cama vazia, aí sim tive vontade de chorar. O que me impediu de voltar foi a minha excepcional (in)certeza que tudo daria certo afinal. Horas e horas, nem consigo ter ideia de quantas mas pareceu uma eternidade até a Califórnia. Até a descida do ônibus me achava forte e diferente, mas tudo por lá era fora da minha compreensão.
Os caras usavam mais aquela porcaria de laquê e mais maquiagem do que todas as garotas que eu conheci na vida, e as garotas... Os shorts pareciam que adentrariam suas almas perdidas e as saias estavam mais para cintos. Eu realmente era uma caipira careta, quanta decepção! Precisaria de muito mais para mudar o mundo.
Larguei meu corpo cansado em frente a uma lojas de aparelhos eletrônicos de última geração, era a primeira vez que via um Atari 2600 de perto. De dentro do estabelecimento pude ouvir "Home Sweet Home", a nova canção do Mötley Crüe. Depreciando-me cada vez mais, peguei no sono.
O movimento intenso do tráfego me acordou, já não possuía mais noção de tempo ou espaço. E as pessoas na rua nem se importavam comigo.
O desespero bateu à minha porta - antes eu tivesse uma - bem mais cedo do que eu imaginava. Por que eu saí de casa? Por que eu me separei deles? Desejava muito um abraço da minha mãe, era uma criança ainda. Eu exagerei, talvez minha situação melhorasse em pouco tempo mas eu não esperei, não pensei tão bem como achei que tinha.
Havia uma voz e ela dizia que era preciso continuar. O Diabo quem sabe, ouvi sobre isso no culto, ele nos tenta a fazer coisas ruins. Não podia ser pois esse chamado me passava segurança.
Andei algumas quadras e consegui pagar um café requentado com com bolinhos velhos numa espelunca qualquer. O lugar era escuro e úmido e muitos motociclistas mal-encarados circulavam por ali. Enquanto eu engolia aquela coisa nojenta lembrei-me dos biscoitos no fundo da mochila, gastei dinheiro à toa, que ódio. Saí rápido enquanto uma briga se formava.
Vaguei até a noite. Vi muita coisa exótica, digamos e como a noite era agitada. Não pude perceber isso antes mas o lugar poderia ser bem divertido. Músicos entravam e saiam de estúdios independentes, garotas rebolavam pelas calçadas e grandes motocicletas rugiam alto se misturando ao som que vinha das casas noturnas, infelizmente a grana era curta para qualquer curtição.
Um estabelecimento mais simples mantinha a porta entreaberta, o cartaz anunciava um show da banda Guns N' Roses, nunca ouvi falar mas o som deles era bom. Lá dentro uma meia dúzia de doidões e algumas garçonetes, fiquei olhando. O vocalista me irritou a princípio com sua voz esganiçada, parecia uma ave migratória sendo torturada e a cara do guitarrista nem existia debaixo de uma vasta cabeleira cacheada. Permaneci de pé no fundo do bar ou o que quer que aquilo fosse até o final da apresentação, em toda minha ignorância podia jurar que aqueles caras tinham futuro.
Um pouco depois de todo mundo se mandar - umas dez ou onze pessoas - eu continuei esperando. Para ser sincera eu tinha segundas intenções com um deles, principalmente para com o vocalista. Roqueiros sempre me deixavam excitada mas depois eu fiquei com medo, meu lado puritana rejeitava quaisquer tipo de gente alterada por álcool, drogas e outras substâncias ilícitas.
Eles berravam eufóricos e chapados.
– Porra, vocês viram quanta gente? O baterista, um louro meio atarracado ria descontroladamente. Tinha os olhos vermelhos.
– Stevie, seu grande filho da puta, o que você tá dizendo? Um outro louro cumprido e magro, afinava seu baixo e ria.
De repente uma cadeira voou perto da minha cabeça. Alguém se descontrolou e xingava enrolando a língua enquanto quebrava tudo o que via pela frente. Izzy, um branquelo de cabelos pretos ensebados e o louro alto, Duff, seguraram-no pelos braços com força.
– Axl para com isso cara! Você sabe que não é fácil conseguir um espaço com tantas bandas se formando por aí caralho!
– Cala essa merda dessa boca, vocês sabem que do jeito que anda nós nunca... Nunca ouviram?... Vamos chegar no nível daqueles fudidos do Aerosmith, Motley Crue, Kiss e outras drogas.
– Drogas cara? Steven parecia ofendido.
– Não enche! É modo de dizer!
Slash, o guitarrista cabeludo olhava para os lados impaciente e fungava de cinco em cinco segundos. Izzy mantinha o olhar no teto e dava chutes no carpete.
– Tudo o que nós precisamos é de um pouco de paciência.
Os cinco se olharam.
Assim que eles saíram pela porta lateral fui correndo até a entrada principal e dei a volta, tentando forjar um "esbarrão acidental". Infelizmente não havia mais ninguém ali... Até que ouvi latas de lixo sendo derrubadas. Axl não conseguia se manter de pé, ficou de joelhos no meio do lixo e continuava xingando.
– Ei! Eu ouvi você lá dentro e...
– Tenho pena de você.
– Não, o som é muito bom, eu compraria todos os LPs. Sabe, vocês são completos, tem ótimo vocal - lancei um olhar furtivo e ele sorriu de volta -, ótimos guitarristas, enfim são todos bons só precisam de... Como ele disse... Um pouco de paciência.
– Ah! O Izzy e suas frases de efeito, que sacana!
– Vem, eu te ajudo a levantar e você me paga um jantar.
– Desgraçada. Mal me conheceu e já quer levar minha grana. Os caras devem estar enchendo a cara no Lou's.
Ele passou o braço pelos meus ombros e caminhamos até o final da rua. O cheiro forte de whiskey não me incomodava nem um pouco.
Curiosamente eles não estavam lá. Nós comemos uns hambúrgers com batata e refrigerante. Na escuridão de onde estávamos antes não pude perceber seus longos cabelos ruivos intensos, seu olhos esverdeados se destacavam na pele branca, um nariz proeminente e de linhas bem esculpidas. Merda, adolescentes são volúveis demais! Acho que estava me apaixonando.
Depois, não me lembro mais de nada, sei que fui apresentada à minha primeira dose de Jack Daniel's e ao meu primeiro cigarro, passei por uma agitação que não sei como explicar... Finalmente descobri o que era um homem, meu pai já não era mais o meu exemplo.
Acordei sozinha num quarto medonho curiosamente vestida, um café um pouco menos terrível do que aquele primeiro me esperava na mesinha de cabiçeira junto com o um bilhete.
"Eu devia ter te adotado, não... Enfim. Tá na cara que você não é dessas vagabundas que andam por aí, talvez eu não me esqueça de você.
Te fiz uma letra hoje de manhã. Atrás da folha, até algum dia.
W.Axl Rose"
Eu estava me odiando e odiando aquele safado filho da puta, acontece que a bebida muda as pessoas, para pior, uma garrafa e meus pensamentos mais sórdidos se transformaram em ações. E esse bilhete, era tão grosseiro, parecia que não estava nem ligando e ainda mentiu porque era óbvio que me achava uma vadia.
Virei a folha, a canção estava intitulada "Patience" e trazia no refrão a tal frase de Izzy. Que feio roubando as ideias dos amigos. O que importa é que era uma verdadeira declaração de amor, mesmo que ele não me amasse, mas os músicos compõem por qualquer coisa. E como se uma borracha gigante passasse pelo meu cérebro tudo de mau que eu pensava dele sumiu. Era mesmo muito linda. Um tempo depois ele a dedicou a uma tal Stephanie não-sei-das-quantas, não me ofendi porque eu sabia que era mentira.
Se não me engano o Guns N' Roses foi para San Diego promover uns shows, finalmente ganharam a merecida oportunidade. Lembro-me de dois anos depois ter os escutado na rádio com a música que viria a ser um dos hinos do rock, "Sweet Child O'mine", e de ter me orgulhado muito. Se tornaram uma puta de uma banda.
Ganhei algumas pratas trabalhando numa loja de discos e fui para Nevada, e felizmente a vida sorriu para mim, em 1998 entrei numa sociedade com um grande amigo chamado Kent Stanishole e abrimos uma casa de shows em Las Vegas. Axl, Slash e Steven aparecem por aqui às vezes para prestigiar nos eventos - espero ver Izzy e Duff algum dia. Aqueles anos 80 foram os mais loucos e inesquecíveis da minha vida, aliás, que viveu nessa década certamente tem muito o que contar.
Agora que me lembrei de tudo isso descobri como as pessoas são hipócritas, acho que vou liberar Sarah. Pelo amor de Deus, eu fui pra rua com 16 por que ela não pode morar com a tia avó? Aproveito que ela vai estar longe e curtir os anos que me restam. Ah, e quanto ao pai dela, não faço ideia de quem seja mas ela tem belos olhos esverdeados.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Bem, espero que tenham gostado. Na verdade não é um grande romance ou coisa parecida - apenas resultado de uma mente fanaticamente insana - mas fiquei feliz com o resultado!

Adeus! :)


Nenhum comentário:

Postar um comentário